terça-feira, 10 de abril de 2012

Falsa Aleluia


I-Como aquela manhã radiosa anunciou o regresso às vitórias

Tal qual antevimos na crónica anterior, ao Juiz apresentava-se uma tarefa difícilima, que era recuperar a força anímica que fora abalada durante toda a semana santa.Talvez consciente das dificuldades que ia enfrentar, chegou ainda com os primeiros raios de sol ao campo de batalha, retirando-se em solitária meditação para o putting green. Iniciada a contenda, agigantou-se o Juiz durante a primeira parte da prova, durante a qual infligiu severos danos aos adversários, terminando com 19 pontos e larga vantagem (6 e 7 pontos, respectivamente) sobre o Furioso e o Patinha.

II-Como o Anti-Cristo levou a cabo o seu maléfico plano

A meio da manhã, mais especificamente no buraco 3 das Oliveiras (par 5),ventos traiçoeiros levantaram-se e nuvens negras surgiram no horizonte. Os telemóveis do buggye onde seguia a força do mal desataram a tocar, alternada e simultaneamente, provocando a distracção do Mestre ("Sim faz favor...", "Ó Coelho, quanto pesam esses robalos?", "Eh pá, já estou a ficar chateado com esse carro!","Hi baby, how are you today?", etc. etc. etc.). A maligna estratégia ficaria no entanto consumada com um drive longuíssimo do Furioso e um ferro3 a 190 metros do green, a colocar a bola junto à bandeira, para eagle. Com 3 pontos perdidos num só buraco, à desorientação do Juiz juntava-se agora o "cagufo" (o que no golfe, eufemisticamente, chamam pressão).
Dois buracos a seguir, nova maldade: quando o Juiz se preparava para o ataque ao green, o Patinha pôs-se a tocar ferrinhos com os tacos. Resultado, furo do Juiz, birdie do Furioso e mais 3 pontos à vida.Separados por um 1 ponto, chegam ao último buraco. Aqui já o "cagufo" do Juiz tinha desaparecido e dado lugar ao "todo borrado", o que, a juntar à irritação acumulada por tantos golpes baixos, fez com que não fosse capaz de melhor que um duplo boggye. O par que o Furioso aí conseguiu colocou ponto final no jogo e na esfola.

III- Como se fizeram e desfizeram alianças ao longo da disputa
A acompanhar o Cristo e o Anti-Cristo, seguiam os acólitos Pato e Patinha. O Pato passara a noite de segundafeira de Pascoela num retiro de montanha, em cânticos de glória em louvor dos Sagrados Leões, onde foram sacrificadas algumas perdizes com castanhas.À já longa lesão numa asa, tinha juntado no dia anterior um "bechoco" na pata, que até valeu uma visita ao Cortatudo, pela mão sempre disponível e caridosa do Juiz. Tudo isto somado resultou numa quebra de energia, que quase parecia a equipa dos lampiões nos últimos jogos do campeonato. Resultado, um "apagão" total, que o tornou num mero espectador, ainda assim acusado pelo Juiz de participar na estratégia do Furioso, ao distraí-lo com ruídos inoportunos nos momentos de concentração. Já o Patinha ia fazendo jogo-duplo. Aliava-se ao Furioso (telemóvel, conversas com o Pato, etc.) no ataque ao Juiz, mas ao mesmo tempo ia galgando terreno e aproximou-se perigosamente da dianteira. De tal forma que até houve conferência de cartões via telefónica, pois chegou a ser dado, primeiro como vencedor "ex-aequo",mais tarde como escapado ao pagamento do almoço, tendo perdido finalmente, mas na secretaria.

IV- Dos perigos que podem advir desta falsa Aleluia

A vitória do mal, seja pelos golpes usados, seja pelo medo que provoca, acarreta sempre consigo consequências imprevisíveis e, quicá, funestas.
A entrada em vigor de uma nova ordem pode levar à adopção de medidas extraordinárias, como a aventada pelo Juiz de que, tal como nas esquadras americanas, cada jogador passará a ter direito apenas a fazer um telefonema (excepção feita ao Patinha, que pode encomendar o peixe para o almoço, mas fora do fairway). Pode inclusivamente levar à suspensão das competições mensais, que só serão retomadas após um período de reeducação dos prevaricadores, sobre etiqueta do golfe.

PS- Por respeito ao jejum que o Juiz vem conhecendo, hoje não falamos de comida

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